E quando o mundo passa por uma transformação repentina, que muda os hábitos de toda uma população e, principalmente, expõe o abismo social que há entre os que estão inseridos digitalmente e os que nem sequer têm acesso à internet?
O relacionamento de uma associação com o governo é essencial para mitigar riscos e identificar oportunidades de negócios para determinado setor. Ele deve ser constante e permanente para alcançar agendas propositivas.
Mas, e quando o mundo passa por uma transformação repentina, que muda os hábitos de toda uma população e, principalmente, expõe o abismo social que há entre os que estão inseridos digitalmente e os que nem sequer têm acesso à internet?
Em um momento único do papel do acesso à Internet na nossa sociedade, e especialmente desafiador para o Brasil, chego à ABRINT – Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações com o desafio de aumentar a sinergia da entidade com o governo e provar a potência de digitalização dos provedores regionais frente à pandemia de Covid-19.
Nestes dez anos atuando na área de telecomunicações e como assessora parlamentar na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, aprendi pautar meu trabalho em visões e valores, fortalecido por meio de um código de ética e conduta. Com o objetivo de formular estratégias em relações governamentais para grandes empresas, como Santander, Itaú e Telefônica, sempre busquei uma sinergia entre as áreas e, assim, construir uma ambiência de agendas propositivas.
Na ABRINT, no entanto, o networking será mais do que bem-vindo neste momento peculiar do País e de um novo desafio para mim como profissional. Como diretora executiva da entidade, vou implementar, juntamente com todo o time, as ações estratégicas definidas pelo Conselho de Administração, permitindo a expansão das Prestadoras de Telecomunicações de Pequeno Porte (PPPs) que estão na liderança da banda larga no Brasil.
Segundo a Anatel, há pelo menos um provedor em operação em todas as cidades do país, e mais de 60% do mercado nacional de fibra óptica até os domicílios brasileiros vêm dos provedores regionais.
Mapear esses riscos e oportunidades neste momento é fundamental para a interlocução propositiva com o governo. Não podemos deixar de fornecer estudos e informações necessárias que contribuirão para a elaboração, aprovação e implementação de políticas públicas que permitam a massificação da internet no território brasileiro.
Afinal, 47 milhões de brasileiros ainda não usam a internet, segundo a pesquisa TIC Domicílios do Comitê Gestor da Internet (CGI.br), sendo que 26 milhões estão nas áreas urbanas e pertencem às classes DE. A pesquisa foi realizada antes da pandemia e aponta que a maioria da população tem acesso ao mundo virtual somente por meio de um celular.
A essencialidade da internet de banda larga para viver em um período de isolamento social, em que a possibilidade de acessar aulas, trabalho, entretenimento e compras online define quem está exposto à uma doença que pode ser fatal, permitiu que os provedores regionais de internet se tornassem protagonistas. Sem eles, mais de 10 milhões de casas poderiam ficar sem internet e adicionar mais de 30 milhões de usuários sobrecarregando as redes móveis e gerando um verdadeiro colapso.
A importância desse serviço foi, inclusive, apontada por decretos governamentais que permitiram o deslocamento de equipes técnicas durante períodos de quarentena. Frente a isso, a ABRINT tem dialogado com a Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade (SEPEC) do Ministério da Economia com o objetivo de contribuir para uma nova medida provisória que amplie o crédito para as micro e pequenas empresas neste momento de crise.
A demanda por serviços oferecidos por provedores não para de crescer. A mudança de perfil e o aumento de pessoas em casa, que causou preocupação do setor no início do isolamento social, foi amplamente atendido graças a crescente expansão da fibra óptica no Brasil que permitiram às PPPs fornecerem mais banda e velocidade que grandes operadoras. Mas os desafios de conexão à banda larga continuam e nós, da ABRINT, temos que atuar para mitigar riscos que possam interferir na expansão da rede.
A entidade continua atenta a todas as iniciativas que possam impactar a prestação do serviço dos seus associados e, com a minha ajuda, não só atuará para evitar que elas se concretizem, mas também para promover agendas propositivas que potencializem os negócios do setor e permita que a digitalização seja ampla e constante no país, oferecendo oportunidades de conexão para todos os brasileiros.
Por Alessandra Lugato, diretora executiva da ABRINT – Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações.
Fonte: ISPblog.